"Ali, por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um
dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na
sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de
alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Era uma onça
enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pós
suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o salto
gigantesco."
Nesse trecho do romance
O Guarani,
um dos mais destacados da obra de Alencar, evidencia-se o estilo
descritivo, mas também o caráter aventuresco dos romances do autor.
Filho de um ilustre senador do império, José Martiniano de Alencar
cursou advocacia, mas logo tornou-se político, jornalista e escritor.
Foi nessa última atividade que obteve maior destaque para a posteridade.
Considerado o maior romancista do
Romantismo brasileiro,
Alencar criou uma literatura nacionalista, empregando um vocabulário e
uma sintaxe típicos do Brasil e evitando o estilo lusitano, que até
então prevalecia na literatura aqui produzida.
Sua obra traça um perfil da cultura e dos costumes de sua época, bem
como da História do Brasil, tendo como preocupação essencial a busca de
uma identidade nacional, seja quando descreve a sociedade burguesa do
Rio de Janeiro, seja quando se volta para os temas ligados ao índio ou
ao sertanejo. Seus romances costumam ser classificados em quatro
categorias: urbanos, históricos, indianistas, e regionalistas.
A obra urbana de Alencar segue o padrão do típico romance de folhetim,
retratando a alta sociedade fluminense do Segundo reinado, com tramas
que envolvem amor, segredos e suspense. Mas por trás da futilidade dos
namoricos da Corte está a crítica à hipocrisia, à ambição e à
desigualdade social.
José de Alencar também chega a analisar o caráter psicológico de suas
personagens femininas, revelando seus conflitos interiores e antecipando
as características da escola realista, que sucedeu o Romantismo. Seus
romances urbanos são: Cinco minutos (1860), A viuvinha (1860), Lucíola
(1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872),
Senhora (1875) e Encarnação (1877).
Senhora é considerado o mais importante deste grupo.
Os
livros indianistas
buscam transportar as tradições indígenas para a ficção, relatando
mitos, lendas, festas, usos e costumes, muitas vezes observados
pessoalmente pelo autor. Mesmo assim, o índio é visto de maneira
idealizada, que representa, em nível simbólico, a origem do povo
brasileiro. Nesse sentido, seus textos trazem a imagem do homem branco
(europeu) como corrompido pelo mundo civilizado e apresenta o índio com
ares de "bom selvagem", destacando seu caráter bom, valente e puro. Seus
romances indianistas são: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara
(1874).
José de Alencar também buscou inspiração em nosso passado para escrever
romances históricos, propondo uma nova interpretação literária para
fatos marcantes da colonização, como a busca por ouro e as lutas pela
expansão territorial. Seus enredos denotam em vários momentos um
nacionalismo exaltado e o orgulho pela construção da pátria. Obras
históricas: As Minas de prata (1865), Alfarrábios (1873), A guerra dos
mascates (1873).
Já os
romances regionalistas
denotam o interesse do autor pelas regiões mais afastadas do Brasil,
alheias à influência européia que predomina na Corte fluminense. Assim,
ele alia os hábitos da vida no campo e a cultura popular à beleza
natural e exótica das terras brasileiras. Se nos romances urbanos as
mulheres são sempre enfatizadas, nas obras de cunho regional os homens
recebem o destaque, com toda a sua rudeza, enfrentando os desafios da
vida, enquanto que as mulheres assumem papéis secundários. Seus romances
regionalistas são: O gaúcho (1870), O tronco do Ipê (1871), Til (1872),
O sertanejo (1876). Com eles o autor focalizou, respectivamente, os
pampas, o interior paulista e o sertão nordestino, procurando dar conta
de nossa diversidade regional.
Ao lado da literatura, não se pode esquecer de que José de Alencar foi
um político atuante, vindo a ser deputado provincial do Ceará e a ocupar
o cargo de ministro da Justiça. Deixou a política após ter seu nome
vetado pelo imperador
D. Pedro 2°
para o cargo de senador. Deprimido e debilitado pela tuberculose, de
que sofria desde a juventude, foi para a Europa para se tratar. Sem
obter resultados, voltou ao Brasil em estado grave, morrendo pouco tempo
depois, aos 48 anos.
Thiago Maia, Fernando Lacerda, Danilo jose, rodrigo oliveira.